Futuro é agora: tecnologia muda o mercado de trabalho e a vida das pessoas

Raquel Fanci Por Raquel Fanci

Aquela imagem do carteiro batendo de porta em porta pode ficar para a história, literalmente. Assim como a figura do caixa de banco, dos cobradores de ônibus e das secretárias nas empresas. Essas profissões estão entre as dez que devem desaparecer do país nos próximos cinco anos, segundo o relatório “O Futuro do Trabalho 2023”, apurado pelo Fórum Econômico Mundial com apoio da Fundação Dom Cabral (FDC).

Estima-se que 83 milhões de postos de trabalho serão extintos. Em contrapartida, cerca de 69 milhões de vagas de emprego devem ser criadas em outras dez áreas impulsionadas pela tecnologia, digitalização e sustentabilidade. Entre elas estão especialistas em Inteligência Artificial (IA), operadores de máquinas agrícolas e analistas de dados.

O saldo dessa mudança no mercado de trabalho é que 14 milhões de pessoas podem entrar na lista do desemprego global se não correrem contra o tempo atrás de qualificação. Aquela pergunta clássica nas entrevistas de emprego “onde você imagina que estará profissionalmente daqui a cinco anos?” vale para todos, alertam os especialistas. “Há escassez de mão de obra qualificada. Os países desenvolvidos farão ‘atração de cérebros’ para profissionais qualificados, e nós vamos perder os nossos. Isso já está acontecendo”, pontua o professor da FDC Carlos Arruda.

Na prática, a preparação para as novas vagas deve ser constante e conjunta, com envolvimento do poder público, das empresas e, claro, dos trabalhadores, como afirma o coordenador dos cursos de gestão e negócios do Uni-BH, Felipe Gouvêa Pena. “Independentemente do cargo que está, do nível de instrução, a pessoa deve se inteirar das mudanças, não se alarmar e buscar qualificação. Existem muitas alternativas gratuitas”, declarou.

Foi o que fez a analista de dados Karina Rocha, de 35 anos. Ela se formou em engenharia de produção e trabalhou em diversas áreas, com as quais não se identificou. Por isso se especializou em BI (sigla em inglês para inteligência de negócios), ramo que gostava e sobre o qual percebeu um crescimento de demanda no mercado. “É importante estarmos atentos ao mercado e às habilidades que estão se tornando mais necessárias no trabalho. Estou satisfeita com a minha escolha e com o quanto estou me desenvolvendo profissionalmente”, disse.

Controle emocional importa ainda mais
Para se preparar para as novas vagas, existem as “hard skills” e as “soft skills”. Enquanto a primeira trata de capacidades técnicas, como aprender uma nova língua, a segunda relaciona-se ao comportamento, como a habilidade de trabalhar em equipe. As “soft skills” diferenciam o homem do robô e, portanto, são essenciais, como explica Jailton Souza, professor de psicologia do trabalho da faculdade Estácio. “Entre as principais está o autocontrole, a gestão das emoções. As pessoas podem ter sentimentos, mas precisam saber controlá-los e usá-los de forma adequada”, disse Souza.

Também são indispensáveis a comunicação, a adaptabilidade, a capacidade de negociação e de gestão de tempo, entre outras. “Negociar é diferente de dar desculpa. Quando há argumentos, as pessoas te escutam”, encerrou.

O relatório
O levantamento do Fórum Econômico Mundial analisou 45 economias do planeta e levou em conta dados de plataformas como LinkedIn e Coursera, além de pesquisa de opinião com executivos de 803 empresas de diferentes setores, que, juntas, empregam 11 milhões de pessoas.

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